quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Está reclamando do quê?

Sandra Maia

Por Sandra Maia 

Está reclamando do quê?

Você, como eu, deve conhecer pessoas que passam uma vida a reclamar. Reclamam de tudo. Do outro, da vida, do trabalho, da família, do trânsito, etc. Reclamam do que lhes chega ou do que não chega.
Vivem com o que não tem e deixam de prestar atenção ao que lhes pertence. Sua vida, seus sonhos, seus desejos, suas conquistas e também suas derrotas. Seus pontos positivos e negativos. Suas virtudes e suas falhas.
Nasceram únicos e, ao longo da vida, transformam-se em vítimas, são exageradamente críticos. E, dessa forma, seguem. Com o tempo, sem se dar conta, “ser reclamão” se torna quase um traço de personalidade e, então, fica cada vez mais difícil de mudar…
Efeito dominó
O caminho que seguem já está escrito: perdem um tempo precioso cuidando dos outros e suas questões ao invés de cuidar dos seus interesses. Interessante perceber que, quando um começa a reclamar, logo vem outro e conta sua trágica história. Depois outro e outro, como num concurso para ver quem reclama mais, quem tem mais tragédia em sua vida…
É verdade! O amor, a felicidade, o belo, o verdadeiro se chocam com o desamor, a infelicidade, o feio e o falso. Podemos sempre escolher entre um e outro – mas sabe como é aquela história? Hábitos são dificilmente deixados para trás! Pois é, acontece. Quanto mais nos cercamos dos que reclamam, mais reclamamos…
Rir 
Então reclamar deve ser banido do nosso cotidiano? Poderia, se aprendêssemos a dizer não, a nos colocar, a dar ao outro limites. Ou então, melhor: se nos ajudasse a ter atitude, a perguntar, a falar o que vai dentro. E, por incrível que pareça, reclamar de tudo é muito parecido com rir de tudo.
O título desse artigo também poderia ser:  está rindo do quê? Pois é. Assim como conhecemos aqueles que só reclamam, na outra ponta do pêndulo, estão os que de tudo fazem graça. Fazem graça da sua desgraça, do que lhes acontece, do que acontece ao outro – levam a vida como uma verdadeira piada.
Mas a vida não é uma piada. Não dá para achar tudo engraçado. Tudo divertido. Estes são aqueles que falam “Nossa! Ele me ofendeu ontem, me disse coisas terríveis”,  com aquele sorriso inconsciente nos lábios de quem vive alimentado pelo prazer negativo. E o prazer negativo – para os que riem da desgraça ou para aqueles que reclamam da vida – tem o mesmo tom. Isto é, tira um e outro da realidade e os distancia do centro. Do caminho da transformação, do caminho do amor, das relações saudáveis e possíveis.
Promover o bem viver não é tarefa fácil. Primeiro porque temos de contrariar o que já está estabelecido em termos comportamentais. E segundo porque rir do nada ou reclamar até da sombra são duas faces de uma mesma moeda. Uma atitude ou outra nos faz tolos perante os demais.
Inferno privado
Quando estamos agindo dessa forma, não aprendemos. Não nos permitimos ouvir, ver, tocar… Não nos permitimos dar, receber ou trocar. E, com qualquer dessas escolhas, vamos transformar nossas relações em verdadeiros infernos privados.
Há saída possível para esse tipo de comportamento? Sim. Não é nada fácil, mas podemos sempre recomeçar diferente. Parar de reclamar demanda um esforço sobre-humano. Parar de rir à toa também. Mas vale a pena.
Primeiro porque imagine você converter todo o esforço de um ou outro comportamento viciado para planejar o futuro, realizar sonhos, estabelecer metas, voltar todo o foco e poder para si mesmo? Pois é! Imagine uma pessoa vivendo todo o tempo do mundo com o foco em se tornar mais e melhor para, dessa forma, viver relações saudáveis e plenas em harmonia?
Difícil? Sim, mas não impossível. A palavra aqui é disciplina!

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